Chovia...
Chovia copiosamente
Assomei à porta
Via do céu jorrarem bátegas
Caindo em cima dos carros
Com aquele enorme barulho
Semelhante a das areias
Aquelas areias grossas
As areias de aluvião
Lançadas por mãos expeditas
Por cima das chapas de zinco
Vindos de Sul
Os clarões iluminavam
Esta bela noite lisboeta
Transformavam em fantasmas
Prédios e casas
Candeeiros e árvores
Que fugiam espantados
Com o ribombar dos trovões
Suspirei
Olhei para mim mesmo
Imaginei-me outrora
Dentro do meu carro
Abrindo caminho
Dentro das bátegas de água
Como se sulcasse mares imensos
Em busca do meu pecúlio
Para aos meus sustentar
Dando-lhes
Cama mesa roupa vestida
Para que um dia
Bem mais tarde
Se recordassem de mim
E das minhas longas ausências
Não como um aventureiro
Mas sim como um pai obreiro
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2010-03-06