Trovoadas de Outono…
Trovoadas de Outono
Acordaram-me de rompante
Sentei-me estremunhado
Olhei meio cego pelos clarões
Que mais pareciam flashes fotográficos
Ora os céus ficavam claros
Neles desenhando todos os contornos
Deste belíssimo bairro onde sempre vivi
Ora se quedavam escuros como breu
Fazendo-me arrepiar da cabeça aos pés
Quanto os coriscos interrompiam
Fazendo-me lembrar certo ribombar
Dos tambores das danças fantasmagóricas
A tempestade se aproxima
As gotas da chuva batem forte nas vidraças
Com aquele forte ruído das pedras de granizo
Não resisti
Sentei-me a dedilhar minhas impressões
Neste teclado digital
Recordando os tempos das trovoadas angolanas
Em que se rezava a Santa Bárbara
Para que fossem para bem longe
Onde não existisse pão e vinho sobre a mesa
Nem a flor de rosmaninho
Nem sem-abrigo
Nem pobres buscando pedaços de alimento
Nos caixotes do lixo das sobras dos ricos
Nem os excluídos sociais
Fui à minha janela
Deixei de rezar com medo
Que as chuvas deste outono
Deixassem de cair
Porque as plantas deste lado do mundo
Nada se pareciam com as da minha Angola
Lá fora chove copiosamente
Todos os trovões assustam as nuvens
Estamos dentro do rodopiar do outono
Há folhas a voar
Há vento a uivar
Há lágrimas a cântaros
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2012-10-25

