Dia dos Visitadores...
Dia dos Visitadores
Dos entes queridos já partidos
Que só após a sua morte
Têm honrarias
Campas
Jazigos
Gavetas
São limpos ao pormenor
Quer chova vente ou faça sol
Nelas depositam
Flores em uni-dose
Ramos de flores
Coroas de flores
Castiçais com velas
Em silêncio se quedam
Deixando desfilar nas suas mentes
Memórias invisíveis
Que lhes despertam sorrisos discretos
Ou fazem correr lágrimas pelas suas faces
Suspiram
Benzem-se
Voltam costas
Regressam às suas casas
Cientes de que cumpriram um dever sagrado
Dois dias passados se lá regressarmos
Dá dó ver tanta flor pelo chão
Flores murchas
Castiçais tombados com velas apagadas
Homens da limpeza de vassouras em punho
Juntam aquelas peças do puzzle de uma devoção
Lançam-nas nos carrinhos do lixo
Para serem levadas para as Lixeiras Municipais
Onde serão consumidas pelas incineradoras
O céu vai clareando
O rei sol aparece quente e sorridente
Até as pedras dos jazigos de deleitam
Já que os mortos
No seu silêncio eterno
Nem flores
Nem velas
Nem sol
Conseguem agradecer
Toda a nossa presença
No Dia dos Visitadores
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2012-11-03
