Cão de Rua...
Quem não se acautela
Quando vê um Cão de Rua
Habituado às intempéries
Habituado a ser corrido
Habituado a ser apedrejado
Habituado a passar fome
Habituado a não ter Médico
Porque dele até a Doença foge
Há quem se enterneça com ele
Há quem se compadeça dele
Há quem o leve para casa
Há quem fique triste
Porque ele
Cão de Rua
Triste ficou com aconchegos
Quem o deseja ver feliz
É dar-lhe a Liberdade novamente
É deixá-lo noite e dia ruas fora
Ora dormindo aqui
Ora alimentando-se ali
Os afectos sabem-lhe bem
Momentaneamente
Nem a mais
Nem a menos
Cão de Rua não se acasala
Vai acasalando quando calha
Cão de rua não sabe quantos filhos teve
Cão de rua é um sem desgostos de família
Cão de rua acha tudo uma dádiva de Deus
Cão de rua quando morre
Não preocupa ninguém
Alguém o joga no caixote do lixo
Mas depois é que são elas
As ruas ficam sem a sua presença
As ruas ficam sem o seu ladrar
Nas ruas passa a morar eternamente
A Presença da sua Ausência
Os Humanos Vindouros
Do Cão de Rua Lendas tecerão
Lendas de que se dava bem com todos
Até com os Gatos de Rua bem se dava
Outros dirão apenas
Era um Cão de Rua igual a tantos outros
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2009-05-14