Olhei manhã cedinho...
Pelas minhas janelas
No morro em frente
Aquele Túnel imenso
O Túnel do Grilo
Pelas suas enormes aberturas
Devorava trânsito para a cidade
Devolvia habitantes aos seus lares
Olhá-lo assim
Repleto de carros e camiões
Fez-me recuar alguns anos
Recordando o que me aconteceu
De semelhante
No meu percurso diário
Até ao local do meu trabalho
E no regresso a casa
Saía normalmente pelas sete e meia
Deixava as filhas
Na Escolinha e no Infantário
Mais à frente
Deixava minha mulher
No seu local de trabalho
O meu dia-a-dia
Passava-se sem pasmaceiras
Trepidante
Cansativo
De regresso
Meio ensonado elo cansaço
Saboreando os SG Gigante
Uns atrás dos outros
Escutando a minha cassete preferida
Repetia a operação da manhã
Desta vez no sentido inverso
O transito era caótico
Tanto à ida como no regresso
Os carros novos envelheciam rápido
Os velhos avariavam mais amiúde
Recordo-me ao de leve
Dos acessos antigos
Nada comparáveis aos de hoje
Bem mais modernos
Sem buracos
Em largas estradas
O caos persiste
O trânsito aumentou descomunalmente
Os veículos parecem medrar nas estradas
O tempo das viagens inflacionou-se
Suspirei profundamente
Afinal
Para que se gastaram
Tantos milhões de euros
Para expropriar
Rasgar
Cobrir de cimento
Cobrir de asfalto
Terras outrora cultiváveis e férteis
Seria
Para dar trabalho a uns
Tornar outros ainda mais ricos
Mas aquela mesma rotina
Fastidiosa
Desconsolada
Degradante
Do melhor que existe em nós
Subsiste
Tende a tornar-se perene
Não fora o acaso de nos reformarmos
Ao fim de inúteis anos de luta
Que a algum Oásis
Nos fez aportar
Além do dever cumprido
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2009-11-27