Coisas Inanimadas...
Fui dar uma volta
Pelas montras de livros
Com as suas capas coloridas
Enfeitando espaços
Outrora libertos
Agora pejados destes objectos
Sem vida própria
Tal como muitos dizem
Coisas Inanimadas
Abri um deles
Bem à mostra num dos escaparates
Seu título amorfo
De nada me entusiasmou
Abri ao calhas
Senti aquele toque próprio
De cada página em papel
Cheirei as tintas delas emanadas
Senti-me quase que num outro Mundo
Li ao calhas milhares de caracteres
Dei comigo a compra-lo
Já nos transportes públicos
Tentei olha-lo mais por dentro
«Olha Bem à Tua Volta»
É o seu título
Parei momentaneamente
Olhei todos à minha volta
Tal como todos os livros
Fechados pelas suas capas
Indecifráveis
Insorrisiveis
Amorfos
Dentro dos seus trajes coloridos
Ocupando espaços chamados lugares
Agora pejados destes seres indecifráveis
Sem vida própria
Tal como muitos dizem
Coisas Inanimadas
Mas por dentro de cada um deles
Tal como nos Livros
Um Mundo adorado por uns
Um Mundo repudiado por outros
Olhei de novo para este meu livro
Dentro contem muita Vida
Um Mundo criado por um ser humano
Mas não seremos todos nós
Nados e criados
Por dois Seres Humanos
Ninguém nos lê os Íntimos
Todos reagem aos nossos exteriores
Ficamos tantas e tantas vezes
Esquecidos nos escaparates da Vida
Só porque o nosso exterior é criticável
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2010-01-31