Imagem recolhida na Internete
Se eu soubesse ser Avô...
Iria de mãos dadas com os meus netinhos
Passear alegremente pelas ruas de Lisboa
Andaríamos curiosos nos Elétricos Amarelos
Daríamos uma grande volta pela cidade
Naqueles Autocarros Vermelhos descapotáveis
Desceríamos em Belém para navegar num Cacilheiro
Rodeados de gaivotas barulhentas saudando-nos
Tejo acima lancharíamos as nossas Merendas
Os meus grandes e velhos dedos
Apontariam lá para longe onde está o Cristo Rei
À esquerda
Erguia-se o colorido e garrido o casario de Lisboa
Olhando lá para o cimo da Colina o velho Castelo Mourisco
À direita
Entre a vermelha Ponte 25 de Abril e a branca Vasco da Gama
Além do Cristo Rei distribuem-se pela bela margem
Cacilhas Barreiro e o Montijo
À esquerda de novo
Oolhariamos o monumental Parque das Nações
O irrequieto Cacilheiro ali atracaria para lá desembarcarmos
Numa correria própria da vossa juventude
Iriam arranjar lugar lá para o McDonald's
Quando lá chegasse meio cansadote
Já estavam duas mesas ocupadas por vocês
E um lugar especial para o avozinho sempre vagaroso
Seria comer e tagarelar como um bando de pardais à solta
Olharia para o relógio
Olharia para vocês
Nossos olhares seriam já de saudades
As horas teriam corrido muito rápidas
Telefonaria aos vossos paisocas para vos virem buscar
Seria bom ver-vos nos dois carros vocês acenarem-me felizes
Entretanto passei do sonho à realidade
Preparava-me para ir apanhar o Metro
Quando alguém muito jovem me pediu dinheiro para comer
Era um dos muitos meninos daquelas ruas de dias dificeis
Sem avós disponiveis nem pais presentes
Reentrei no Parque das Nações
Arranjamos dois lugares na Só Peso
Deixei-o servir-se à sua vontade
Acompanhei-o apenas com uma sopa quentinha
Pouco ou nada falámos
Ele fixava-se na comida que tinha à frente meio ausente
Eu olhava-o com satisfação de quem dá incondicionalmente
Depois de se levantar da mesa deu-me um beijo na face
E disse-me baixinho: Gostava de ter um avô como você
Dissemos adeus um ao outro acenando nossas mãos
Desaparecemos pelo meio daquele mar de gente
Talvez um dia destes nos voltemos a encontrar
Para poder fingir de ser Avô outra vez daquele menino
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2011-07-26