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Jul 11

Imagem recolhida na Internete

 

Se eu soubesse ser Avô...

 

Iria de mãos dadas com os meus netinhos

Passear alegremente pelas ruas de Lisboa

Andaríamos curiosos nos Elétricos Amarelos

Daríamos uma grande volta pela cidade

Naqueles Autocarros Vermelhos descapotáveis

Desceríamos em Belém para navegar num Cacilheiro

Rodeados de gaivotas barulhentas saudando-nos

Tejo acima lancharíamos as nossas Merendas

Os meus grandes e velhos dedos

Apontariam lá para longe onde está o Cristo Rei

À esquerda

Erguia-se o colorido e garrido o casario de Lisboa

Olhando lá para o cimo da Colina o velho Castelo Mourisco

À direita

Entre a vermelha Ponte 25 de Abril e a branca Vasco da Gama

Além do Cristo Rei distribuem-se pela bela margem

Cacilhas Barreiro e o Montijo

À esquerda de novo

Oolhariamos o monumental Parque das Nações

O irrequieto Cacilheiro ali atracaria para lá desembarcarmos

Numa correria própria da vossa juventude

Iriam arranjar lugar lá para o McDonald's

Quando lá chegasse meio cansadote

Já estavam duas mesas ocupadas por vocês

E um lugar especial para o avozinho sempre vagaroso

Seria comer e tagarelar como um bando de pardais à solta

Olharia para o relógio

Olharia para vocês

Nossos olhares seriam já de saudades

As horas teriam corrido muito rápidas

Telefonaria aos vossos paisocas para vos virem buscar

Seria bom ver-vos nos dois carros vocês acenarem-me felizes

Entretanto passei do sonho à realidade

Preparava-me para ir apanhar o Metro

Quando alguém muito jovem me pediu dinheiro para comer

Era um dos muitos meninos daquelas ruas de dias dificeis

Sem avós disponiveis nem pais presentes

Reentrei no Parque das Nações

Arranjamos dois lugares na Só Peso

Deixei-o servir-se à sua vontade

Acompanhei-o apenas com uma sopa quentinha

Pouco ou nada falámos

Ele fixava-se na comida que tinha à frente meio ausente

Eu olhava-o com satisfação de quem dá incondicionalmente

Depois de se levantar da mesa deu-me um beijo na face

E disse-me baixinho: Gostava de ter um avô como você

Dissemos adeus um ao outro acenando nossas mãos

Desaparecemos pelo meio daquele mar de gente

Talvez um dia destes nos voltemos a encontrar

Para poder fingir de ser Avô outra vez daquele menino

 

Marcolino Duarte Osório

- Peregrino -

2011-07-26

publicado por Marcolino Duarte Osorio às 22:34
sinto-me: de coração cheio de felicidade

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