Zangas, numa Família portuguesa, com pergaminhos...
Hoje, ao folhear um arquivo meu, com manuscritos sobre excertos da vida real, deparei-me com um episódio, acontecido há cerca de 20 anos, escrito mas nunca publicado, quer em livro sobre comportamentos humanos, quer no meu blogue.
Mas hoje resolvi torná-lo publico, sem nomes, quer de intervenientes, quer dos locais, dada a contundência deste acontecimento no seio de uma Família tipicamente portuguesa, vou resumi-lo, porque merece destaque, para que todos aqueles que me visitam tentem dar o seu melhor na interpretação da Solidariedade!
Quanto ao interveniente principal, Sempre o conheci como homem vivendo só, sem família, afável, correto, reto, conciliador, e solidário. Nunca lhe ouvi um queixume, nem palavras de azedume. Teve sempre defeitos como os demais, mas sabia agir com índole mansa, e solidária.
Por motivos que sempre desconheci, porque nunca mos revelou, seus três filhos resolveram cortar relações consigo, obrigando-o a nunca poder saber nada deles, usando, como arma, o gume afiado e gélido, do seu silêncio sepulcral, proibindo-o de os procurar, fosse em que circunstancia fosse!
Um dia, num dos encontros regulares e diários, que mantínhamos para tertúlia, muito cauteloso, contou-me que, terceiros, lhe haviam confidenciado, que um dos seus filhos, o do meio, havia falecido, em data indeterminada.
Incomodado, tentou saber da veracidade de tal noticia, mas, conforme perguntava, a quem deste seu filho teria sido mais próximo, mais se adensava o não se saber de nada, num autentico carrossel de mistério, com a agravante, de saberem acrescentar, ardilosamente, que ele, seu pai, estaria perdoado, mas ambos os filhos sentiam, em relação a ele, um medo incomensurável, sem que alguma vez tivessem revelado, a verdadeira natureza desta desavença, o que fazia pairar, de forma arguta e assassina, o espetro da dúvida sistemática, criadora de factos inenarráveis nunca dantes acontecidos, que levavam, este pai, à desonra da falsa incriminação, expondo-o, e prejudicando-o, publicamente, com este seu voto de silêncio!
Depois de várias tentativas goradas, resolveu, em boa hora, como pai, consultar a Conservatória dos Registos Civis, onde obteve uma Certidão, do Assento de Nascimento, narrativa completa. De posse deste documento, ficou incomodadíssimo, ao ver que na referida Certidão, existia, apenso, um Registo de Óbito, que confirmava o falecimento deste seu filho, há perto de cinco anos.
Devido à sua avançada idade, adoeceu, de tal forma, que o seu coração coragem quase deixou de bater para sempre.
Uma vez recomposto, fez duas fotocópias desta Certidão, enviou-as por correio registado com aviso de receção, com um cartão de visitas, onde constavam os seguintes dizeres: «Minha homenagem póstuma a este vosso irmão, é tardia, porque as vossas cabeças de vento se esqueceram que, por meu falecimento, há partilhas a fazer, e nelas estarão incluídas, a viúva do vosso irmão do meio, quer se case novamente, quer não, e os seus descendentes. Irei providenciar, em conformidade, junto do meu advogado».
O rebuliço que este facto gerou, junto das suas noras, e seus netos, foi deveras eletrizante, em que elas exigiram aos seus pares, a reconciliação incondicional, sem recriminações, com o seu pai, votado ao abandono anos atrás, quem sabe, se por alguma conveniência fútil...
Estas zangas, numa Família portuguesa, com pergaminhos, foram apaziguadas com a presença da forte voz, do dinheiro…!
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2011-09-12