Nostalgia…
Será nostalgia
Será evolução mal aceite
Será medo do Futuro
Hoje falei com o meu irmão
Olhando para o seu netinho
Recuamos no tempo
Lembrámo-nos de coisas inverosímeis
Vistas à lupa dos novos tempos
Rimo-nos a bom rir
Porque na nossa juventude
Nem sonhávamos com os dias de hoje
Nostalgia
Serão amarras ao nosso passado
Com medo de evoluirmos
Que nos fazem meditar
Aquilo que fomos
Aquilo que nos vamos tornando
Porque nunca desejámos parar
Amarrados pelos medos de evoluir
A um passado que foi a nossa escola
Outrora limite invisível da evolução
Ao presente de hoje
Meta volante para novas evoluções
Se as nossas mentes se deixam parar
Nos tempos passados
Então hoje entramos em sofrimento
Por falta de entrosamento
Resolvemos então deixarmo-nos de ser passado
Para podermos absorver e usufruir
Todas as benesses destes novos tempos
M. Osório
-Peregrino-
2012-01-27
Tantas saudades de ti…
Tantas saudades de ti
Minha terra minha amada
Que me deu vontade de partir
Navegar até Angola
Mas como não tenho dinheiro
Para te rever pessoalmente
Fico-me por aqui pelos cantos
Carpindo minha dor de saúde de ti
Olhando lá sempre no horizonte
Para ver se vens ter comigo
Em forma de caravela doutros tempos
Mas por favor me vem buscar
Só quando Deus me mandar embora
Para chegar no outro lado sem saudades
Mas com muita alegria na minha alma
M. Osório
-Peregrino-
2012-01-24
De um estendal…
De um estendal, daqueles meio desengonçados, em que, de vez em quando, caem peças de roupa, sem pedir licença, a quem por baixo, suas roupas, estende.
Suspendia eu, umas calças de fazenda, quando sinto nas minhas costas, algo molhado, mas demasiado leve. Endireitei-me. O que havia poisado nas minhas costas, para o chão da cozinha deslizou. Rodei meia volta e sorri-me com espanto!
Oh gente, o milagre acontecera, o fio dental, bem escarlate, da minha doce vizinha, entrara-me portas adentro.
Com ar vitorioso, peguei em tal escarlate trofeu, tomei-lhe o peso, estiquei-o e logo, logo a imaginei de cintura finíssima, glúteos redondinhos, qual diva dos meus sonhos, quando à sua porta se me assomasse, para lho entregar, solicito…
Preparava-me para sair. Eis que tocam à minha porta. Abro-a, de mansinho, com o meu melhor sorriso, desejando surpreender, com toda a minha simpatia, a minha querida vizinha.
- Bom dia, vizinho…!
Era, nem mais nem menos, que o magrelas do andar acima, do da minha diva, com a sua vozinha de travesti, a perguntar-me pelo seu fio dental
Não perdi a compostura, mantive-me sorridente, lá lho entreguei, sem me desarmar.
Despediu-se com um Deus lhe pague com muita saúde, respondi-lhe, não à letra, mas com um Deus lhe pague com muitíssimo juizinho.
De cada estendal, deste meu prédio, ele há surpresas inolvidáveis. Umas já são do meu conhecimento. Outras vão-se-me desvendando…
M. Osório
-Peregrino-
2012-01-16
Um Adeus a um Grande Padre, meu Grande Amigo…
Esta madrugada, dei comigo na internet, a entrar num motor de busca, procurando por Calmeiro Matias. Depressa encontrei o seu blogue. Vieram-me as lágrimas aos olhos mas, logo, logo, me acalmei, ao olhar a sua fotografia, com o seu doce, e terno sorriso.
Intuitivamente, recuei ao passado. A última vez que falei pessoalmente com ele, foi há cerca de 6 anos. Mantivemos durante muito tempo, contacto via e-mail. Sempre leu as minhas poetagens. Sempre que podia, dava-me o seu apoio, via e-mail, incentivando-me a prosseguir. Ainda trocamos saudações, pela Páscoa, e pelo Natal. Mas, o tempo, os afazeres, e a distância, fizeram esfumar, lentamente, a minha necessidade de lhe contar sobre mim, e de escutar seus sábios conselhos.
Conheci-o, por me ter sido indicado por alguém, seu Amigo, como Terapeuta de Casais. Telefonei-lhe. Dias depois estávamos, eu e a minha mulher, a consultá-lo no Centro Jovem de Tabor, situado nos arredores de Setúbal.
Apesar dos progressos que obtivemos, na nossa evolução pessoal, como casal, a firme decisão, da minha mulher, de se divorciar de mim, tomou ainda mais força. Resumindo: Foi a atitude mais certa e mais coerente, para ambos.
Se valeu a pena, ter conhecido o Pe. Santos, só ele, eu, e Deus o sabemos…
Querido Amigo, Pe. Santos, sei que estás em bom sítio. Sei que me podes ver todos os dias. Por favor, aceita este meu singelo texto, como agradecimento, do muito que fizeste por mim, humanizando-me!
Segue-se um texto transcrito do seu blogue:
«O Pe. Santos viu agravar-se muito repentinamente o seu estado de saúde. Depois de um problema oncológico que parecia já precisar apenas de alguma vigilância, depois de operado, aconteceu que silenciosamente o cancro foi criando metástases que se espalharam muito rapidamente. Assim, em apenas um mês a sua saúde debilitou-se até partir para o Pai na manhã do dia 17 de Julho.
O Pe. Santos, era natural de Freixial do Campo, Castelo Branco. Nasceu no dia 9 de Janeiro 1942, o mais velho de muitos irmãos. A sua primeira presença entre nós, invulgarmente, não foi como acólito nem como seminarista… Tinha 17 anos quando, como trabalhador de construção civil, ajudou a levantar a Igreja dos Redentoristas em Castelo Branco. Entrou depois na Congregação como Irmão. Ex-trabalhador da construção e apenas com a 4ª classe. Professou na Congregação no dia 15 de Agosto de 1961. Nestas condições, ninguém acreditava que ele pudesse ser Presbítero e quando ele começou a desejá-lo as dificuldades foram muitas… No entanto, conseguiu ir estudando e avançando os anos que faltavam, ao mesmo tempo que sempre desempenhou a sua missão como Irmão na Congregação. Foi irmão durante 7 anos, em Castelo Branco, Gaia e Guimarães.
Fez depois os estudos teológicos em Lisboa e uma especialização em Teologia Sistemática na Universidade de Estrasburgo… Quem diria?! Foi também nestes anos que recebeu formação em Psicoterapia, actividade que exerceu até ao fim, sempre convencido que este era um serviço imenso ao Evangelho de Jesus, Libertador do Ser Humano daquilo que o oprime e escraviza.
Ordenado no dia 1 de Agosto de 1974, dia de Santo Afonso, entendeu a sua missão enquanto Redentorista essencialmente como uma Proposta da Fé que gera contextos comunitários em que seja possível aprofundar o Mistério de Deus e do Homem. Um e outro encontram-se no inesgotável Mistério de Cristo. Assim, ao longo de mais de trinta anos, foram milhares de cursos, palestras, conferências, retiros, semanas de formação… De maneira muito especial, trabalhou activamente como professor nos CEF (Cursos de Educação da Fé), organizados pelos Redentoristas, que percorreram várias dioceses e formaram centenas de agentes pastorais.
Deu volta ao país inteiro, formou grupos e pequenas comunidades em inúmeros lugares, durante alguns anos foi professor convidado de teologia num seminário em Brasília onde leccionava um trimestre, em 1997, já na Comunidade do Porto, foi-lhe entregue a missão da Formação dos Estudantes de Teologia e, nestes últimos anos, já com uma actividade itinerante menos intensa, foi o responsável do Centro de Catequese Santo Afonso, na Rua Firmeza.
De destacar o seu lugar como pioneiro da Evangelização pela Internet em Portugal! Foi um dos primeiros Presbíteros em Portugal a entrar nesse novo areópago… Já em 2002 criou o seu primeiro site. Desde aí, não parou. Com a facilidade de trabalho que os blogs trouxeram nos últimos dois anos, aproveitou também esse meio. E foi, acima de tudo, esse, o testemunho que deixou: um zelo incansável pelo anúncio do Evangelho, um olhar atento às oportunidades e possibilidades de transmitir a Boa Notícia da Vida que nos vem de Cristo.
Esse testemunho não cessou durante este último mês, quase todo em internamento… Desde o princípio viveu tudo isto com uma enorme Paz, com uma Serenidade e uma Alegria que contagiavam os que o acompanhavam mais de perto e o pessoal de enfermagem que o cuidava. Até ao fim, numa manhã de Páscoa, em que também ele, serenamente, expirou e se Passou para o Pai…»
M.Osorio
-Peregrino-
2012-01-13
Só agora dei que existo...
Só agora dei que existo
Que tenho este blogue
Se sou visitado e lido
Nem que seja por curiosidade
É matéria fora do meu pensar
Se ninguém minha casa visita
Para quê dizer a todo o mundo
Que vivo sem amigos diariamente
Nem o padeiro nem o leiteiro
Conseguem vender-me seus produtos
Como consumo tão pouco
Não sou nem serei um bom cliente
Sou daqueles quem lhes dá os bons dias
Acenando com uma das mãos
Porque a outra minha cabeça descobre
Em sinal de respeito
Pela minha vida passaram tantos e tantos amigos
Uns de infância
Outros da Escolinha e do Liceu
Quiçá da Tropa e da Faculdade
Mas da minha velhice ... népia
Uns já morreram
Outros para lá caminham cheios de achaques
Seus filhotes nunca me conheceram nem eu a eles
Quebraram-se laços de grandes amizades
Como quem deixa partir um copo de lindo cristal
Os cacos são varridos para o caixote do lixo
E na vitrina por lá ficou mais um espaço vazio
Onde ficam os outros bem longe do nosso olhar
Escondidos atrás das lindas portinhas da cristaleira
Não vão outras mãos aos velhos copos deixar tombar
Triste por não ver ninguém por perto
Vou espreitar os que ainda restam ao Facebook
Digo-lhes olá como lhes disse sempre
Quedo-me ansioso à espera de um sinal seu
Deles obtenho como resposta o seu duro silencio
Dou-lhes os parabéns pelos seus aniversários
Desejo-lhes umas Boas Festas
E como resposta
Nem um clique no «gosto» Facebookiano
Será que morreram e ninguém tem a sua palavra passe
Para suas presenças se tornarem em coisas que já foram
Mas nada de meu se quedou sem uma grande Amizade
Um casal jovem e bem humorado me adotou como Amigo
Ela pequenina ladina e bem humorada de coração fraterno
Ele um bom gigante Alentejano coração de oiro e nobre trato
Prefiro este afetuoso Facetoface ao outro Facebook
Porque nos saudamos
Porque conversamos
Porque rimos
Porque temos tempo para nos escutar
M. Osório
- Peregrino -
2012-01-05