De um estendal…
De um estendal, daqueles meio desengonçados, em que, de vez em quando, caem peças de roupa, sem pedir licença, a quem por baixo, suas roupas, estende.
Suspendia eu, umas calças de fazenda, quando sinto nas minhas costas, algo molhado, mas demasiado leve. Endireitei-me. O que havia poisado nas minhas costas, para o chão da cozinha deslizou. Rodei meia volta e sorri-me com espanto!
Oh gente, o milagre acontecera, o fio dental, bem escarlate, da minha doce vizinha, entrara-me portas adentro.
Com ar vitorioso, peguei em tal escarlate trofeu, tomei-lhe o peso, estiquei-o e logo, logo a imaginei de cintura finíssima, glúteos redondinhos, qual diva dos meus sonhos, quando à sua porta se me assomasse, para lho entregar, solicito…
Preparava-me para sair. Eis que tocam à minha porta. Abro-a, de mansinho, com o meu melhor sorriso, desejando surpreender, com toda a minha simpatia, a minha querida vizinha.
- Bom dia, vizinho…!
Era, nem mais nem menos, que o magrelas do andar acima, do da minha diva, com a sua vozinha de travesti, a perguntar-me pelo seu fio dental
Não perdi a compostura, mantive-me sorridente, lá lho entreguei, sem me desarmar.
Despediu-se com um Deus lhe pague com muita saúde, respondi-lhe, não à letra, mas com um Deus lhe pague com muitíssimo juizinho.
De cada estendal, deste meu prédio, ele há surpresas inolvidáveis. Umas já são do meu conhecimento. Outras vão-se-me desvendando…
M. Osório
-Peregrino-
2012-01-16