28
Out 12

 

Pesadelo…

 

Pesadelo

Acordei a tremer

Camisola do pijama encharcada

Foi um daqueles pesadelos

Que premonição parecia ser

Acendi a luz da mesinha de cabeceira

Olhei em redor atarantado

Desejava levantar-me mas não conseguia

Revi mentalmente aquele pesadelo

Meio assustado por me parecer que te vi

O teu cheiro de nené ainda persistia

No teu rostinho de menina traquina

Brilhavam duas contas grandes e brilhantes

Pareciam mesmo os teus lindos olhos

O sorriso era eternamente o teu

Chamei pelo teu primeiro nome

Estendi-te os meus fortes braços

Respondeste que terias que seguir com a tua Vida

Que o Tempo do Tempo do Tempo do Teu Tempo

Havia chegado ao seu final

Deixa-me abraçar-te supliquei

Respondeste-me que um dia me abraçarias

Mal eu chegasse ao Lado de Lá

Levantaste a tua doce mãozinha

Acenaste-me vivamente

Acenaste-me sorridente

Acenaste-me revelando-me que sempre me amaste

Acenaste-me dizendo-me que era hora de partires

Acenei-te também

Muito triste vi-te sair a caminho do Infinito

Desejei erguer-me da cama

De cima da mesinha de cabeceira caiu um bibelot

Um pratinho que me ofereceste no dia Do Pai

Nele estava escrito a azul «Pai Preciso Muito de Ti»

Olhei para o soalho e fiquei aterrorizado

O pratinho partira-se em três pedaços iguais

Um era meu

Outro era da tua maninha

E o terceiro era da tua mãe

Peguei nos três pedaços

Coloquei-os sobre a mesinha de cabeceira

Desejando que voltassem a unir-se

Apaguei de novo o candeeiro

Voltei adormecer

Manhã cedo mal acordei

Olhei para a mesinha de cabeceira

Onde tinha colocado os três pedaços da tua prendinha

No lugar deles estava apenas uma grande lágrima

Lágrima de uma saudade sem limites

Dentro dela estava escrito

«Obrigado por me teres perdoado»

Tentei pegar nesta grande lágrima de cristal

Mal lhe toquei

Em miríades de pedaços se desfez

 

Marcolino Duarte Osório

          - Peregrino -

          2012-10-28

publicado por Marcolino Duarte Osorio às 02:30
sinto-me: dá-me noticias tuas...!

27
Out 12

 

A hora vai mudar…

 

A hora vai mudar

Meus dois relógios

O de parede e o de pulso

Ao dar-lhes corda

Aos seus dois ponteiros movimentei

Para as suas novas posições

Não tenho que me preocupar

Com os outros dois relógios

O deste computador

E o do meu Televisor

Esses serão actualizados automaticamente

Não são relógios meu corpo e min’ alma

Estão sempre síncronos em tempo

Na hora disto daquilo daqueloutro

São um todo sem ponteiros de marcar horas

Minha vida não regride nem avança

Meu coração bate-bate

Ou docemente

Ora intranquilo

Ou inconformado por não ser amado

Ora síncrono com os demais

No bater do seu dia-a-dia

Mudanças horárias nele

Parece nunca terem existido

Foi o inexorável Tempo

Que dele se apoderou

Em cansaço e tristeza

Olho-o com doce carinho

Positivo-o a prosseguir

Mimo-o

Acaricio-o

Encho-o de afectos

Animo-o a prosseguir

Ele olha-me pleno de cansaço

Exausto pedindo-me complacência

Com medo de me ofender

Vá lá coração pleno de amor Peregrino

São apenas mais umas etapas

Algures mais umas metas volantes

Não desistas agora que há ainda muito para viver

Ainda há muito amor para dares e receberes

Tantos afectos reprimidos

Que tens de os soltar agora

Quantos rostos não receberam o teu beijo

Quantas lágrimas deixariam de rolar com o teu amor

Quantos abraços não deste reprimindo-te

Anda

Não voltes a inibir-te

Deixa teu corpo redopiar na melodia da tua alma

Não pares

Não te tornes programável

Não tens que adiantar nem atrasar a tua hora

Estarás sempre a tempo se agires

A hora vai mudar…

 

Marcolino Duarte Osório

       - Peregrino -

        2012-10-27

 

 

publicado por Marcolino Duarte Osorio às 23:13
sinto-me: na mudança da minha hora...!

25
Out 12

 

Trovoadas de Outono…

 

Trovoadas de Outono

Acordaram-me de rompante

Sentei-me estremunhado

Olhei meio cego pelos clarões

Que mais pareciam flashes fotográficos

Ora os céus ficavam claros

Neles desenhando todos os contornos

Deste belíssimo bairro onde sempre vivi

Ora se quedavam escuros como breu

Fazendo-me arrepiar da cabeça aos pés

Quanto os coriscos interrompiam

Fazendo-me lembrar certo ribombar

Dos tambores das danças fantasmagóricas

A tempestade se aproxima

As gotas da chuva batem forte nas vidraças

Com aquele forte ruído das pedras de granizo

Não resisti

Sentei-me a dedilhar minhas impressões

Neste teclado digital

Recordando os tempos das trovoadas angolanas

Em que se rezava a Santa Bárbara

Para que fossem para bem longe

Onde não existisse pão e vinho sobre a mesa

Nem a flor de rosmaninho

Nem sem-abrigo

Nem pobres buscando pedaços de alimento

Nos caixotes do lixo das sobras dos ricos

Nem os excluídos sociais

Fui à minha janela

Deixei de rezar com medo

Que as chuvas deste outono

Deixassem de cair

Porque as plantas deste lado do mundo

Nada se pareciam com as da minha Angola

Lá fora chove copiosamente

Todos os trovões assustam as nuvens

Estamos dentro do rodopiar do outono

Há folhas a voar

Há vento a uivar

Há lágrimas a cântaros

 

Marcolino Duarte Osório

          - Peregrino -

          2012-10-25

publicado por Marcolino Duarte Osorio às 05:23
sinto-me: como o tempo está lá fora...

13
Out 12

 

Eu sou o Aston..

 

Eu sou o Aston

Olhem só pra mim

Como era pequenino quando nasci

Logo vieram interessados

Mexer e remexer na nossa ninhada

Era um corrupio de gente barulhenta

Miúdos e graúdos

Pegando em cada um de nós

Escolhendo entre machos e fêmeas

Se cão se cadela seria

Para logo nos separarem

Como se fôssemos seres sem afectos

Só sei que fui ficando para o fim

Sentindo por muito mais tempo

O calor e o afecto da minha mãe

Um belo dia chegou um casal meio jovem

Logo de um deles escutei

Oh só têm cá este meio desengonçado

Senti-me elevar seguro por mãos doces e firmes

Gostei

Mas quedei-me mansinho meio dorminhoco

Não fora acontecer como aos meus maninhos

Tirarem-me do calor da minha mãezinha

Olha é um macho ouvi da boca dela

Logo veio ele espreitar virando-me de patas para o ar

Mas que gente tão estupida virando-me e revirando-me

Só para saber se eu era macho ou fêmea

Pois é disse ele

Queres comprar e lavá-lo para nossa casa

Sim disse ela acarinhando-me junto ao seu rosto

Que nome lhe queres dar

Olha chama-lhe Aston é curto e sonoro

Aston… Aston querido olha para a dona

Mas que chata pensei eu

Deixa estar disse ela dando-me muitos mimos

Fingi que tinha adormecido

Minha mãezinha apercebeu-se que me iam levar

Preocupada levantou o focinhito

Para me lamber e cheirar

Quem sabe se pela última vez

Senti-me órfão

Senti-me só na vida

Senti-me mais pequeninito do que já era

Senti medo de ficar longe da minha mãe

Senti minha cabeça andar à roda

Com o forte cheiro do perfume da minha dona

Apre esta gente ainda não aprendeu

Que cão só gosta do cheiro dos dele

Fui metido numa cestinha forrada de tecido colorido

Fui cercado de bonecos e coisas esquisitas

Muitas festinhas e muito carinho me iam dando

Mas faltava-me o calor da minha mãe

Faltavam-me as suas lambidelas de carinho

Faltava-me o seu cheiro

Faltavam-me as suas tetas para meu leite ir beber

Deram-me tudo aquilo que pensavam eu gostar

Só uma coisa não me poderiam voltar a dar

O calor o amor e os afectos da minha mãe

 

Marcolino Duarte Osório

          - Peregrino -

          2012-10-13

publicado por Marcolino Duarte Osorio às 04:53
sinto-me: bem feliz!

12
Out 12

 

Paciência Obediência Humildade…
 

Paciência Obediência Humildade

São factores primordiais para ser Cão

É o que não falta ao seu Aston

Companheiro ideal para se estar em família

Sentado na sua velha poltrona

Seu dono olhou para a sua Companheira

Ela cosia os botões da camisa do seu marido

Com muita dificuldade lá os pregava

Ele preguiçosamente lhe pediu

Amor vai buscar-me os chinelos

Ela parou a sua tarefa diária

Olhou para o seu lado esquerdo e sussurrou

Aston

Vai ao quarto e trás os chinelos do teu dono

Pachorrentamente ele lá foi

Regressou com ambos os chinelos na boca

Colocou-os aos pés do seu amo e senhor

Como recompensa escutou do dono

Lindo… lindo… Aston

Quando te fores deitar

Dá um beijinho à tua chata dona

Ao passar por ela parou e lambeu-lhe as mãos

Ela afagou-lhe a grande cabeça dizendo também

Lindo… lindo menino… Aston agora vá-se deitar

Lá se ajeitou no seu cantinho em cima da sua manta

Pousou o focinho em cima das patitas dianteiras

Cruzadas como se fossem a sua almofada

E suspirou longamente

Paciência Obediência Humildade

São factores primordiais para ser Cão

 

Marcolino Duarte Osório

          - Peregrino -

          2012-10-12

publicado por Marcolino Duarte Osorio às 09:43
sinto-me: feliz...!!!

06
Out 12

 

É Fim-de-semana…
 

É Fim-de-semana

Oh mas que óptimo

Porque sou forreta de movimentos

Resolvi ir até aminha praia

Instalei-me na minha cabana

Resoluto a nada fazer

Levei um séquito de empregados

Para ser poupado e bem servido

A tarde estava de sol

Sol óptimo para manter o bronzeado

Da cabana à praia

O espaço a percorrer era grande

Meus escravos pressurosos

De liteira à beira-mar me levaram

Molhei os pés

A água estava de boa temperatura

Ondas não as havia

Caminhei serenamente até ao fundão

Deixei-me deslizar para o fundo

Feliz e descontraído vim à tona de água

Afastei-me com meia dúzia de braçadas

Parei

Estava tudo tão camo à minha volta

Que a vontade de regressar não me assistia

Sentia-me melhor que nunca

Desejava eternizar aquele momento

Mas não podia ser

O sol lá longe no horizonte mergulhava

Como se de uma bola de fogo se tratasse

O doce azul do céu ia escurecendo

Dei meia volta e regressei a terra

Dispensei a liteira e meus escravos

Pisando as finas areias

Ia pensando no jantar que me aguardava

Não vos conto mais nada

É fim-de-semana

Oh mas que óptimo

Porque sou forreta de movimentos

Apenas vos recomento

Divirtam-se puxem pela imaginação…

 

Marcolino Duarte Osório

          - Peregrino -

           2012-10-06

publicado por Marcolino Duarte Osorio às 01:54
sinto-me: imaginativo...!

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