Pesadelo…
Pesadelo
Acordei a tremer
Camisola do pijama encharcada
Foi um daqueles pesadelos
Que premonição parecia ser
Acendi a luz da mesinha de cabeceira
Olhei em redor atarantado
Desejava levantar-me mas não conseguia
Revi mentalmente aquele pesadelo
Meio assustado por me parecer que te vi
O teu cheiro de nené ainda persistia
No teu rostinho de menina traquina
Brilhavam duas contas grandes e brilhantes
Pareciam mesmo os teus lindos olhos
O sorriso era eternamente o teu
Chamei pelo teu primeiro nome
Estendi-te os meus fortes braços
Respondeste que terias que seguir com a tua Vida
Que o Tempo do Tempo do Tempo do Teu Tempo
Havia chegado ao seu final
Deixa-me abraçar-te supliquei
Respondeste-me que um dia me abraçarias
Mal eu chegasse ao Lado de Lá
Levantaste a tua doce mãozinha
Acenaste-me vivamente
Acenaste-me sorridente
Acenaste-me revelando-me que sempre me amaste
Acenaste-me dizendo-me que era hora de partires
Acenei-te também
Muito triste vi-te sair a caminho do Infinito
Desejei erguer-me da cama
De cima da mesinha de cabeceira caiu um bibelot
Um pratinho que me ofereceste no dia Do Pai
Nele estava escrito a azul «Pai Preciso Muito de Ti»
Olhei para o soalho e fiquei aterrorizado
O pratinho partira-se em três pedaços iguais
Um era meu
Outro era da tua maninha
E o terceiro era da tua mãe
Peguei nos três pedaços
Coloquei-os sobre a mesinha de cabeceira
Desejando que voltassem a unir-se
Apaguei de novo o candeeiro
Voltei adormecer
Manhã cedo mal acordei
Olhei para a mesinha de cabeceira
Onde tinha colocado os três pedaços da tua prendinha
No lugar deles estava apenas uma grande lágrima
Lágrima de uma saudade sem limites
Dentro dela estava escrito
«Obrigado por me teres perdoado»
Tentei pegar nesta grande lágrima de cristal
Mal lhe toquei
Em miríades de pedaços se desfez
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2012-10-28