25
Nov 12

 

 

Amanheceu feliz...

 

Amanheceu feliz

Deitei contas à vida

Resolvi dar uma volta pela baía

Aparelhei meu velho e cansado veleiro

Arrastei-o até às mansas águas

Empurrei-o e logo me icei a bordo

Veleiro de uma só vela

Veleiro de um só passageiro

Com ele muita coisa vivi

Com ele aproei ao nascer do rei sol

As brisas matinais ainda mansas

Sopravam devagarinho sobre a vela

Enfunando-a

Sem fazer adornar o meu velho veleiro

Mansamente deslizou pela baía

O chapinhar das pequenitas ondas matinais

No velho e cansado casco do meu veleiro

Chamavam devagar pelo meu acordar

Porque o sol se ia elevando

Quente de mais

Que prometia um cáustico dia de verão

Regressei a onde partira

Baixei a vela mestra

Deixei o velho veleiro repousando

Sobre as ainda frescas areias da nossa baia

Mais acordado

Lavei-me e saboreei um principesco pequeno-almoço

Meti pés a caminho

Rumei ao meu escritório ali por perto

De cada quintal soavam os bons-dias da canzoada

Subi ao primeiro andar

Abri a minha janela favorita

O quente sol espreitou para dentro dos aposentos

Trazendo com ele uma alegria bem diferente

 

Marcolino Duarte Osório

          - Peregrino -

          2012-11-25

publicado por Marcolino Duarte Osorio às 01:41
sinto-me: amanhecer bem diferente...

03
Nov 12

 

Dia dos Visitadores...

 

Dia dos Visitadores

Dos entes queridos já partidos

Que só após a sua morte

Têm honrarias

Campas

Jazigos

Gavetas

São limpos ao pormenor

Quer chova vente ou faça sol

Nelas depositam

Flores em uni-dose

Ramos de flores

Coroas de flores

Castiçais com velas

Em silêncio se quedam

Deixando desfilar nas suas mentes

Memórias invisíveis

Que lhes despertam sorrisos discretos

Ou fazem correr lágrimas pelas suas faces

Suspiram

Benzem-se

Voltam costas

Regressam às suas casas

Cientes de que cumpriram um dever sagrado

Dois dias passados se lá regressarmos

Dá dó ver tanta flor pelo chão

Flores murchas

Castiçais tombados com velas apagadas

Homens da limpeza de vassouras em punho

Juntam aquelas peças do puzzle de uma devoção

Lançam-nas nos carrinhos do lixo

Para serem levadas para as Lixeiras Municipais

Onde serão consumidas pelas incineradoras

O céu vai clareando

O rei sol aparece quente e sorridente

Até as pedras dos jazigos de deleitam

Já que os mortos

No seu silêncio eterno

Nem flores

Nem velas

Nem sol

Conseguem agradecer

Toda a nossa presença

No Dia dos Visitadores

 

Marcolino Duarte Osório

          - Peregrino -

          2012-11-03

publicado por Marcolino Duarte Osorio às 03:48
sinto-me: Rei-Sol...!

02
Nov 12

 

Reclamar…

 

Reclamar

Hoje acordei com vontade de o fazer

Estava piurso

Seria por ter dormido mal

Seria por ter estado tempo a mais acordado

Seria de ter sido falta de qualquer coisa

Seria o mal fadado ataque de maus fígados

Continuava agonizantemente mal disposto

Saltei da cama

Liguei o televisor

Acabei ficando pior do que já estava

Desliguei o som

Abri a janela desta salinha

Estava aquele incómodo frio matinal

Ninguém na rua

Enchi os pulmões de ar

Numa só frase fiquei logo bem-disposto

Vão todos à merda…

Se alguém ouviu nada me deu a saber

Se alguém olhou não viu meu ar de bem-disposto

Se alguém ouviu e olhou para si guardou

Às vezes tenho cada acordar

Reclamar

 

Marcolino Duarte Osório

          - Peregrino -

          2012-11-02

publicado por Marcolino Duarte Osorio às 01:12
sinto-me: nal dispostão...!!!
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