A primeira Vez...
Recordo-me como se tivesse sido ontem. Ia fazer seis anitos de idade. Segurava uma sacola de pano grosso azul, feita pela minha mãe, nas minhas pequenitas mãos transpiradas. Minha mãe ajoelhada em frente a este nené magrizelas, de olhos muito grandes e inquietos, segredava-me palavras de incentivo, enquanto me aconchegava ao seu peito.
Meu pai estava impaciente porque as horas passavam. Tinha que ir para o trabalho, mas queria ser ele a levar, pela primeira vez, este seu filho à escola. Era também a sua primeira experiencia.
Lá partimos, ambos, filhote e pai, a pé, até à escolinha Primária que distava de nossa casa, pelo menos, 3 quilómetros.
Eu era o nené feito valente, sem desejar mostrar como estava assustado. Ia caladinho, mãos ultra suadas, tremendo cheio de medo, porque nunca tinha visto uma escola, onde iria aprender a ler pela Cartilha João de Deus, aprender a escrever, aprender a fazer muitas coisas, incluindo as famigeradas contas, e uma coisa esquisita chamada tabuada.
Uma vez lá chegados, sem me explicarem patavina, fui logo integrado no grupo dos medrosos e chorosos debutantes.
Meu pai ergueu-me até nossos olhos se encontrarem, e segredou-me: -Anda lá rapaz, não tenhas medo da escolinha, tens que estudar muito para seres um homem.
Meio entupido acenei-lhe que sim com a cabecita. Deu-me um beijinho numa das faces, colocou-me no chão, e lá me encaminhou carinhosamente, para aquele grupinho de meninos, onde eu não conhecia ninguém.
Aquela manhã, muitíssimo diferente de todas as outras, até então vividas por mim, ficou gravada, nas minhas belíssimas memórias!
Ao meio-dia e meia, minha mãe estava à entrada da escola, com as outras mães, mais ansiosa que eu.
Mal a vi, corri logo para ela, feliz da vida porque tinha muitas coisas para lhe contar.
De mãos dadas, regressamos a casa tranquilamente, palmilhando de novo, aqueles quilómetros, acompanhado por quem, em silêncio, me escutava tagarelando alegremente, feliz da vida, sobre aquele primeiro dia que, ainda hoje, me soa, e sabe, como uma grande aventura.
Isto aconteceu-me há 61 anos atrás, precisamente...!
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2009-09-20