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Mai 11

 

Um fim de semana ... lá muito longe...

 

Um fim de semana ... lá muito longe

Bem longe de Portugal

Bem dentro da minha terra natal

Acordava manhã cedinho

De calções mais que usados

Descalço e sem camiseta

Ia buscar as minhas linhas de pesca

Um balde de zinco

Enfiava na cabecita meu velho chapéu de palha

Corria da porta de casa para a praia

Empurrava meu barco de bimba para a água

Entrava satisfeito da vida

E remava até junto ao farol da barra da baía

O sol subia no céu azul

O calor começava apertar

Ia molhando as costas com a água do mar

E quando o calor era demais entrava de mergulho

Nas águas cristalinas e frescas da Baía do Lobito

As horas iam passando

Os  peixes pescados com linha e anzol

Saltitavam dentro do balde de zinco

Quando o Sol estava quase na sua casa mais alta

Arrumava meus apetrechos de pesca

Dava mais um mergulho para refrescar

Pegava nos remos e remava de novo até a minha praia

Vinha sempre alguém ajudar a por o barco em seco

Minha mãe esperava na porta do quintal do mar

Com ar meio preocupado

Mas quando me via contente e sorridente

Aos pulos com o balde de zinco mais pesado que eu

Me perguntava

Que apanhaste hoje

Mãezinha pesquei Roncador, Garoupa e 2 Pargos Mulatos

Mamãe me abraçava beijava meu rosto de menino

Dizia preocupada

Ai o meu menino que está quente demais e cheio de sal

Já dentro do nosso quintal abria a mangueira da água doce

Tomava um banho com sabão de lavar a roupa

Vestia um calção seco e uma camiseta lavadinha

Ia trepar naquela Acácia Rubra bem grande

Ficava por lá a sonhar que era o Tarzan dos filmes

Quase que adormecia deitado sobre um dos ramos

Estava cansadito e com muita fomeca por causa da pesca

Peregrinito vem para a mesa que o teu pai já lá está

Descia num ápice e corria até à mesa de almoçar

Beijava meu paisocas ele retribuía com ar maroto

Uma vez sentados meu Pai me perguntava preocupado

Para onde foste pescar

Para a boia da entrada da baia

Aí é muito perigoso

Mas pai hoje estava a dar Pargo Mulato que tanto gostas

Viste algum Tubarão

Com sorriso lhe dizia

Não ... nem um

Estavam todos na Missa da Senhora da Arrábida

Tem cautela contigo que a tua carne é tenrinha...

 

Marcolino Duarte Osório

- Peregrino -

2011-05-21

publicado por Marcolino Duarte Osorio às 09:21
sinto-me: feliz...!!!

Gosto muito dessas suas retrospectivas meu amigo.
:)
Parece que viajamos no tempo consigo.
Bom fim de semana.
Abraço
Marta M
Marta M a 21 de Maio de 2011 às 13:34

Olá Marta!
Desta vez viajei a uma das fases mais felizes da minha vida em Angola! :)
Bom fim-de-semana
Abraço
Marcolino

Muito bom. Conta muito bem, naturalmente, As palavras fluem... que agradável é ler isso que escreve. fiquei encantada. Ainda bem que há meninos que podem viver assim uma vida, pelo menos de vez em quando. Ainda vivem...?
É bom que na memória fique o que de melhor nos aconteceu para podermos re-vivê-lo.

ZC
Zilda Cardoso a 22 de Maio de 2011 às 09:27

Que bom poder ser comentado assim por si, é deveras simpático de sua parte este elogioso comentário. Um muito grande agradecimento deste seu Amigo Virtual!
Quanto a viver-se ainda assim, os meus sobrinhos mais novos, ainda nenés, filhos do meu irmão mais novo que continuou radicado na sua terra natal, Angola, também acham que são felizes, porque se divertem como o pai, e o tio kota o fizeram, quando tinham a sua idade.
Naquela altura não existiam computadores. Hoje converso com eles por videoconferência, mostram-me as suas gracinhas, fazem-me imensas perguntas e dão-me imensas respostas. Os tempos evoluiram...!
Olhe, estimada Amiga, com o avançar dos anos, chego à doce conclusão que, é na simplicidade das coisas, e na vivência desprendida dos factos, onde reside, por completo, a minha Felicidade.
Tudo o mais que considerei, note bem, considerei, menos feliz, apesar de fazer parte do cenário do meu passado, tornou-se tão secundário que teve de dar a primazia ao belo do meu quotidiano.
Um abraço de continuação de um óptimo fim-de-semana.
Marcolino

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