Esta crise do Açúcar...
Acordou-me para certas realidades
Aquela parte amarga de todos nós
Escondida quando nada nos falta
Mostrando-se a luz do dia quando há faltas
Os afetos deste Natal desapareceram
Foram substituídos pela má disposição
Porque açúcar aos pacotes faltou
Repentinamente
Nem a Wikileaks vanguardista dos escândalos
Sequer sonhava que o açúcar iria faltar
Os amargos de boca que tem causado
A Portugal inteiro
Ficaram sem açúcar para se retemperarem
Imaginem-me diabético como sou
Sem vontade alguma deste bem açucarado
Entrar aqui ali acolá
Para comprar artigos de higiene caseira
E trazer como complemente dois quilos de açúcar
Não por cabeça
Apenas contando com a minha que vivo sozinho
Mas por local de venda ao público
Entrei num hipermercado
Comprei uma pasta de dentífrica
De lá saí com açúcar não necessário e uma pasta dentífrica
Noutro comprei um par de meias
De lá saí com açúcar não necessário e um par de meias
Ainda noutro e noutros comprei coisas desnecessárias
Só para por cada artigo trazer dois quilos de açúcar extra
Minha casa virou grande açucareiro
Quando açúcar não posso comer apenas o sintético me adoça
Que fazer pergunto eu em face de tanto açúcar angariado
Resolvi estar caladinho sem disto dizer seja a quem for
Mas guardando em lugar fresco e seco tanto açúcar angariado
Oh meu querido e doce Amigo disse-me certa voz ao ouvido
Já te imaginaste nesta crise de falta de afetos
A recolher de dentro de ti mesmo certos afetos escondidos
E colocá-los ao teu bom serviço para que todos a tua volta
Se sintam cada vez mais felizes e confiantes
Mesmo os que foram postos de parte pelos seus familiares
Porque deles já não necessitavam além de lhes darem trabalho
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2010-12-13