Preocupar certo Amigo certo...
Que me conhece há já 58 anos
Parece que virou cena diária
Porque me esqueço sempre
Puro desleixo apenas e mais nada
De levar o telemóvel comigo
Vá para onde for
Fomos sempre despreocupados
Reinadios e estouvados
Acima de tudo e todos
Amigos e Cúmplices inseparáveis
Para o ano ele já faz setenta
E eu os que ele já tem hoje
Já nos vimos em palpos de aranha
No Liceu
No Desporto
Na Guerra
Na Vida
Na saúde
Tudo superámos com alegria e pés ligeiros
Mas hoje sentimo-nos bem mais perto do fim
Olhamo-nos nos olhos interrogativamente
Como que tentando adivinhar
Onde
Quando
Como
Nossos corpos belos e atléticos d'outrora
Foram tomados pela velhice do muito e mau uso
Nossas memórias pregam-nos partidas
Falham de quando em vez
Olha pá
Aquele velho ali sentado foi nosso colega no Liceu
Diz um
Nosso colega no Liceu ... deves estar a delirar
Diz o outro
Grande apagão te está a dar
Diz o primeiro
Então vamos lá perguntar se é ou não quem pensamos
Frente ao Desconhecido
Curiosamente olhando de frente para nós dois
Lá fizemos a tal pergunta sacramental destas ocasiões
N Ã O...!
Respondeu secamente como que correndo connosco...
De sorrisos amarelos regressados aos nossos lugares
Chamamos o garçon para nos servir mais dois uísques
Não só para ajudar a digerir a almoçarada
E já agora porque não o N Ã O do tal Desconhecido
Mas também para nos soltar as línguas
E faze-las contar coisas e loisas daqueles tempos do Liceu
O tal do N Ã O lá partiu rumo à porta
Ainda hoje estamos para saber se seria ou não o tal colega
Nossas memórias pregam-nos partidas
Falham de quando em vez
Nossos estômagos também
Já não digerem como o faziam dantes
Há que comprar pastilhas digestivas para azia quebrar
Olá cá meu Amigão
Não leves a mal esquecer-me do telemóvel
P R O M E T O
De agora em diante levá-lo sempre comigo
Para saber qual dos dois morreu primeiro
A propósito
Quando voltamos ao Torrão
Para uma belíssima Carne de Porco Preto, à Alentejana
Regada com o belo Borba
Como digestivo o nosso Logan
Fica descansado que levarei as pastilhas
E também o meu telemóvel...!!!
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2010-12-14