Só agora dei que existo...
Só agora dei que existo
Que tenho este blogue
Se sou visitado e lido
Nem que seja por curiosidade
É matéria fora do meu pensar
Se ninguém minha casa visita
Para quê dizer a todo o mundo
Que vivo sem amigos diariamente
Nem o padeiro nem o leiteiro
Conseguem vender-me seus produtos
Como consumo tão pouco
Não sou nem serei um bom cliente
Sou daqueles quem lhes dá os bons dias
Acenando com uma das mãos
Porque a outra minha cabeça descobre
Em sinal de respeito
Pela minha vida passaram tantos e tantos amigos
Uns de infância
Outros da Escolinha e do Liceu
Quiçá da Tropa e da Faculdade
Mas da minha velhice ... népia
Uns já morreram
Outros para lá caminham cheios de achaques
Seus filhotes nunca me conheceram nem eu a eles
Quebraram-se laços de grandes amizades
Como quem deixa partir um copo de lindo cristal
Os cacos são varridos para o caixote do lixo
E na vitrina por lá ficou mais um espaço vazio
Onde ficam os outros bem longe do nosso olhar
Escondidos atrás das lindas portinhas da cristaleira
Não vão outras mãos aos velhos copos deixar tombar
Triste por não ver ninguém por perto
Vou espreitar os que ainda restam ao Facebook
Digo-lhes olá como lhes disse sempre
Quedo-me ansioso à espera de um sinal seu
Deles obtenho como resposta o seu duro silencio
Dou-lhes os parabéns pelos seus aniversários
Desejo-lhes umas Boas Festas
E como resposta
Nem um clique no «gosto» Facebookiano
Será que morreram e ninguém tem a sua palavra passe
Para suas presenças se tornarem em coisas que já foram
Mas nada de meu se quedou sem uma grande Amizade
Um casal jovem e bem humorado me adotou como Amigo
Ela pequenina ladina e bem humorada de coração fraterno
Ele um bom gigante Alentejano coração de oiro e nobre trato
Prefiro este afetuoso Facetoface ao outro Facebook
Porque nos saudamos
Porque conversamos
Porque rimos
Porque temos tempo para nos escutar
M. Osório
- Peregrino -
2012-01-05