Um Detetive enganado...
Um detetive enganado, é uma ingrata recordação, que ficou presa nas suas memórias até que um dia, para se libertar de tão desgastante segredo, guardado há mais de 12 anos, resolveu procurar-me para desabafar, para se libertar de alguém a quem havia sido fiel, por amor, por convicção, mas dessa mulher havia recebido um rude golpe com a sua infidelidade.
Um dia, do seu longo passado, ficou estupefacto quando a sua mulher chegou demasiado tarde a casa sem avisar de que isso iria acontecer. Ela chegou descontraída, satisfeita da vida, como se tivesse sido premiada com o totoloto.
Como sempre, como há meses vinha acontecendo, desde que ela havia determinado acabar com o casamento entre ambos, cumprimentou-o com um olá, sem o beijar, à distância, não fazendo o mesmo, à sua filha mais nova, ainda a pé, grudada no TV da sala.
Ele tentou ser simpático, mas quando a olhou de frente, olhos nos olhos, teve um sobressalto, com a radiosidade do olhar dela, com a cor dos seus olhos, que era aquela que só ele pensava conhecer bem, quando faziam amor...
Sentiu-se implodir interiormente, mas, de imediato, reagiu com serenidade máxima, como todo o corno manso deve reagir, juntando alguma ironia, olhando-a de frente, referindo-se a esse facto, com profunda argúcia. Ela sentiu-se apanhada. Reagiu incomodada, argumentando que era ilusão de ótica. Ele sorriu-se, e respondeu que a sua verdade escondida, um dia viria à luz dos seus quotidianos.
Depois disso apenas se limitou a despreocupar-se com as chegadas tardias dela, muito para além dos horários usuais, da sua profissão de professora.
Uma bela tarde ele recebeu um telefonema de uma mulher que desejava contratá-lo para confirmar que o seu marido lhe era infiel.
Foi a casa daquela cliente que lhe facultou os dados necessários para investigação.
Mais à noite lá se postou ele num dos locais indicados. Foi dar uma volta a pé pelo pequeno parque de estacionamento para averiguar se o carro do marido da sua cliente ali estava estacionado. Sim, estava lá, mas mesmo ao lado estava o carro da sua mulher. Sem perder o sangue frio colocou-se dentro da sua viatura para observar o que ali iria ser revelado.
Quase uma hora depois vê ambos chegar às viaturas e, descontraidamente, trocarem um beijo intimo, pleno de cumplicidade, de quem já se soltou, já se despediu de inibições, sexualmente falando.
Não foi necessário investigar muito mais. Dias depois, este meu amigo de infância, entregou a sua cliente todos os dados pedidos por ela, além da confirmação da informação, de que o seu estimado marido, lhe vinha sendo infiel, sem revelar que a senhora era sua mulher, mãe das suas filhas.
Semanas mais tarde a mulher deste detetive, meu amigo, resolveu pedir tréguas ao seu marido. Mas, ou por orgulho ferido, ou por medo, em vez de entrar na cama partilhada por ambos, para fazerem as pazes, preferiu, com muito pouca inteligência, tentar apanhá-lo descuidado, para o amolecer. Ele, sabendo da sua manha, resolveu ficar quedo e mudo.
Ambos se divorciaram amigavelmente. Até agora, ela ficou sem saber se ele saberia de alguma coisa.
Neste momento, sabendo que ela me lê com regularidade, e com a devida autorização do pai das suas duas filhas, resolvi dar-lhe a saber, com esta passagem das suas vidas reais, que ele sempre soube que ela lhe era infiel, com quem foi, mas por índole, desejou saber estar na vida, sem reagir abruptamente, quer por vingança, quer por ego ferido, interpretando na integra, calmamente, a partitura dos apelidados Cornos Mansos...!
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2011-09-05