03
Mar 10

O Mistério das Idades...

 
Ouvi comentar num dos transportes públicos, que utilizo diariamente, que a idade havia deixado de ser um problema!
 
Mantive-me em silêncio, para não ser inoportuno, nem inconveniente!
 
Deixei que continuassem a falar, para ver até onde iria aquela conversa, entre dois amigos, sempre presentes, no meu quotidiano dos transportes públicos, porque gosto de digerir tranquilamente, certos ditos, conceitos, e atitudes, a fim de não entrar em casa alheia, perante a frustração gerada não só pelo factor idade, mas também respeitante a outros géneros de temas das conversas, de banco para banco...
 
Senti-me desligar daquele diálogo, sobre o factor idade, que havia deixado de ser um problema e, sem me dar conta, recuei anos atrás, até aquela altura em que era pequenito, com os meus 4 anitos.
 
Naquela altura se me distraia, e ocupava um lugar ajoelhado à janela, de um autocarro ou mesmo de um eléctrico, olhando distraído as árvores e os prédios que pareciam passar, rapidamente, por mim, nem me dava conta da entrada de gente de má índole, rezingona, que me pegava pelos bracitos, colocava-me, de rompante, em pé no corredor, dizendo-me: -Este menino está a ocupar o lugar de quem vem cansada, homessa!
 
Meio atarantado agarrava-me às saias da minha mãe e, se fazia beicinho, ainda escutava mais desaforos, emanados da gordona refilona, que me havia posto fora dali, logo um dos lugares preferidos pela meninada, a janela, para ver os prédios novos e reluzentes, e as árvores muito magritas, por terem sido plantadas havia pouquissimo tempo.
 
Os anos foram passando, uns lestos, outros bem menos, até chegar aos dias de hoje, em que me regalo, porque a minha idade deixou de ser um problema. Já ninguém me tira do lugar.
 
Agora, sempre que o transporte, metropolitano, ou mesmo autocarro, se detem num apeadeiro, finjo que estou a dormir, encenando um ligeiro ressonar, de velho decrépito que, a uns faz sorrir complacentes, mas a outros dana, porque o raio do velho já devia estar em casa, cabeceando meio a dormir, à frente do Tv, com o gato ao colo, não ali a ocupar um lugar de privilégio, logo do lado da janela.
 
Mas como a idade do meu corpo já está pouco propicia a viajar em pé, com os solavancos dos transportes públicos, o que conta, o que ainda me vai safando, é esta minha boa disposição, retrato fiel da minha idade interior, que contrasta deveras, com a usual rezinguice da velharia da minha geração, que encontro no meu dia-a-dia!
 
E termino dizendo, que esta questão das idades, sempre foi um mistério, com o seu quê de verdades ancestrais.
 
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2010-03-03
publicado por Marcolino Duarte Osorio às 12:14
sinto-me: TRaquinas...!
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