Vindimas…
Vindimas
Acordar manhã cedinho
Ao nascer deste sol setembrino
Fora das sombras abrasador
Debaixo delas tranquilizador
Tesouras de podar nas lestas mãos
São as alfaias destes artesãos
Cuidadosamente cacho a cacho
Vão podando
Vão armazenando
Em cestas levadas às costas e à cabeça
Para nos lagares as deitar
Depois dos lagares cheios
Chegam gentes de pés descalços
Que às uvas colhidas e armazenadas
Cantando cações dolentes
As vão pisando incansavelmente
Até que os pés fiquem dormentes
Até que os seus suores e lágrimas
Se misturam e temperam
O líquido assim nascido
Origem dos nobres vinhos surgidos
Fruto das gentes de pés descalços
Que à noite adormecem por desfalecidas
Sonhando que ao fim da jorna
Suas dividas poder pagar
Depois de um esforço ciclópico
Num contrato a termo incerto
Vindimas de castas mui nobres
Os que colhem e às uvas pisam bago a bago
Jamais ousam saborear esta nobre melodia
Do néctar para os ricos
Gemido do esforço dos pobres
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2012-09-21
