Dialogando com as Pedras...
Sim é uma aventura fantástica
Perguntar a cada pedra do passeio
Que estórias nos sabem contar
Calcorreando as calçadas empedradas
Vou olhando disfarçadamente
Cada uma das minhas pedras preferidas
Dia a dia a cada uma delas lhes pergunto
Sobre algo de interessante
Uma foi jogada com tanta força
Sobre a cabeça de um homem
Das mãos de um meliante ladrão
Que o matou
Impotente a pedra se quedou por ser pedra
Por não poder falar
Pois se pudesse contar à Policia
Logo logo teriam descoberto tal criminoso
Outras me foram contando matreirices
Dos meninotes daquele bairro
Escondidos atrás das árvores
Jogavam as pedras sobre os vidros dos carros
Riam-se muito depois fugiam para casa
Por ali andava meio mundo em busca dos malandros
Mas como as pedras não podiam falar
Lá ficava mais este crime por desvendar
A tantas quantas eram as prostitutas
Me iam contando em verso os seus dramas diários
Dramas famintos por serem dramas de gente de fome
Dramas de dor por serem dramas de gente sofrida
Em cada uma destas pedras poetisas de boca calada
Existiam manchas de sangue invisível
Muitas
Mas mesmo muitíssimas
Eram dramas ensanguentados lavados pelas lágrimas
Das loucuras das agressões físicas a que foram sujeitas
Pelos chulos proxenetas e clientes ávidos em agredir
Estas pedras dramaticamente impotentes para as proteger
Serviam de leito temporário quando eram jogadas ao chão
Soluçantes
Punhos cerrados batendo nas pedras quedas e mudas
Dedos fincados arranhando as pedras indiferentes à sua suplica
Por serem pedras dramaticamente impotentes para as proteger
Eram mais os dramas do que as alegrias
As alegrias poucas se festejam nas ruas as restantes em casa
Os dramas esses expõem-nos a todos pelas Ruas da Amargura
Marcolino Duarte Osório
- Peregrino -
2010-12-08